Adeus, Orkut!

(Last Updated On: 11 de novembro de 2016)

Texto escrito por Francisco Alberto Madia de Souza, Diretor-Presidente do MadiaMundoMarketing e Presidente da Academia Brasileira de Marketing.

Adeus Orkut

“Os fantasmas causam maior medo de longe do que de perto”. Maquiavel

Abro o ARCHDAILY – portal e rede integradora dos arquitetos ao redor do mundo. Digito Cidades Fantasmas. Abre com uma foto de Hashima Island. O texto diz: “Cidades abandonadas são uma consequência infeliz da vida e do crescimento em nosso planeta… Algumas são exemplos de mau planejamento urbano, algumas, o resultado do esgotamento dos recursos naturais, enquanto outras são lembranças tristes da fragilidade da vida em um mundo nuclear.” Faltou dizer, no ambiente digital.

O ARCHDAILY relaciona 4 exemplos emblemáticos. Ilha de Hashima, Japão – construída pela Mitsubishi em 1890 para explorar o carvão. Chegou a contabilizar 5.259 habitantes. Em 1974, com o prevalecimento econômico do petróleo a cidade se inviabilizou e o último habitante de Hashima deixou a ilha em abril de 1974. Pripyat, Ucrânia – pequena cidade construída em 1970 para os trabalhadores das centrais nucleares de Chernobyl. Em 26 de abril de 1986 a usina vazou. 50 mil habitantes deixaram a cidade acreditando que um dia iriam voltar. Ordos, China – paraíso para criminosos e notabilizada pelos bordéis, salões de cocaína e antros de ópio, foco de crise diplomática entre Grã-Bretanha e China, viu seus 50 mil habitantes serem retirados por absoluta e total falta de condições de saúde e segurança. Fenômeno que hoje se torna recorrente em muitas regiões da China com a multiplicação de cidades e vilas abandonadas…

Abro a Revista O Globo. Na capa uma matéria histórica. A primeira cidade abandonada do ambiente digital, descoberta pelo talento e sensibilidade de Roberto Kaz: “Orkut, Uma Cidade Fantasma”.

Quem diria, um ambiente que nasceu ontem, 1995, com uma mega cidade abandonada, e centenas de milhões de manifestações perdidas para sempre no espaço digital. Roberto começa a matéria, dizendo, “Uma das últimas vezes que escrevi uma frase no Orkut foi em abril de 2010. Eu tinha 28 anos, morava em São Paulo e acabara de aparecer, por acaso, no programa da Ana Maria Braga. Um parente que me vira na TV, escrevera na minha página da comunidade social: `Ninguém aparece na Ana Maria Braga para responder pegadinhas impunemente!´ Retruquei com uma piada, e fechei a página. Era 19 de abril de 2010. Desde então, meu perfil no Orkut tornou-se um moribundo virtual…”

O Orkut nasceu em janeiro de 2004. Durante 6 anos reinou absoluto – a maior rede social do Brasil. Metade dos 70 milhões de usuários eram originários de nosso país. Em 2010 foi ultrapassado pelo Facebook. Abandonado, empoeirado, fantasmagórico, assim permaneceu em seus últimos anos de vida. No dia 30 setembro de 2014, deu o último suspiro e morreu de morte matada pelo Google, seu progenitor.

Foi-se o Orkut, fica a lição. Tudo o que é vivo, aberto e universal, é passível de tudo. E assim é na “segunda pele”, ou no segundo ambiente do admirável mundo novo – o digital. Cochilou, um único momento que seja, você, seu blog, o portal de sua empresa, sua comunidade convertem-se em almas penadas para todo o sempre; muitas vezes nem dá tempo de dizer amém.

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